As escolas da minha filha no Brasil e no Canadá

Em 2012, minha filha estudou em duas escolas: uma no Brasil e uma no Canadá. Na escola do Brasil, minha pequena fazia duas provas por semestre (pelo menos) e tinha 4 páginas de tarefa de casa todo santo dia. Ela não podia chegar atrasada, porque se chegasse, teria que esperar do lado de fora da sala de aula. Às vezes, ela me implorava para não deixá-la fora da sala sozinha. Se perdesse uma aula, as chances dela se ferrar na prova aumentavam bastante. Sendo assim, ela não poderia nem chegar atrasada, nem faltar. O tempo do lanche era muito pouco e com freqüência ela usava-o para copiar o conteúdo da disciplina do quadro pro caderno. Idas ao banheiro e para beber água, só se fosse urgente ou no intervalo. Ou seja, num intervalo de 20 minutos, ela teria que escolher se lanchava, se ia ao banheiro, se bebia água ou se copiava a PORRA da tarefa. Nesta época, ela era 3o ano do ensino fundamental de uma escola MILITAR no Brasil, isso explica o método, mas não justifica o tratamento.

O mais interessante é que apesar de todo rigor de algumas escolas brasileiras (as melhores), as crianças e os adolescentes no Brasil não respeitam os professores (via de regra). A minha filha respeitava a professora (exceção), mas não sabia o nome da fulana; e nas reuniões dos pais, os professores se queixavam o tempo todo das brincadeiras excessivas das crianças durante as aulas. Por que será que isso acontecia?

Já na escola do Canadá… “Oh Canada” (Joni Michell). Minha filha entrou no 3o ano e começou a ter aulas sobre reciclagem, primeiros socorros, como agir numa situação de incêndio na escola, como cuidar da natureza, como cuidar dos outros e de si mesma. E durante toda a parte do ano letivo que ela estudou, vieram ZERO tarefas para casa. Ao invés de 20 minutos de lanche, minha filha passou a ter direito a 30 minutos para lanchar e brincar no parque e uma hora para almoçar e brincar novamente no parque. A escola deixou de ser um fardo para ela e passou a ser um DIREITO CONSTITUCIONAL. Isso não significa que as crianças brinquem o tempo todo. NÃO. Já vi os pequenos limpando o pátio da escola e plantando flores no Summer time. Apesar de trabalharem e fazerem tarefas de todo tipo, eles não se queixam. Muito pelo contrário, eles vibram por conseguirem fazer. E depois, ganham muitos elogios dos professores e dos pais. Eles ficam radiantes, se sentem valorizados e tentam melhorar dia após dia.   

O objetivo das escolas públicas do Canadá, do meu ponto de vista, é preparar o ser humano para ser um bom cidadão, que cuida do meio ambiente, das pessoas, dos bens públicos e que RESPEITA OS PROFESSORES e as pessoas. Então, no início da vida escolar da criança canadense, ela aprende o porquê tem que aprender. It’s funny, mas muitas, muitas, muitas crianças no Brasil não sabem porquê tem que ir para escola. Elas não sabem porquê precisam aprender matemática, português e toda aquela parafernália. Aprendendo a aprender e a se socializar com outras crianças, a criança fica pronta para desenvolver suas habilidades naturais. Se a criança não gosta de alguma disciplina, não tem problema porque ela já foi ensinada porquê precisa saber minimamente daquilo.

Não tenho dúvidas que é necessário empenho dos pais/professores e estudantes, que é necessário chegar na hora nas aulas e não faltar a escola. Todavia, o importante não é competir com os colegas de turma; não é passar por média ou ser o melhor da turma. O foco das escolas canadenses é descobrir melhores formas das crianças aprenderem; a escola respeita a criança; os professores respeitam o ritmo de aprendizado da criança e, como consequência, a criança se sente bem com o ela própria, desenvolve mais chances de ser adulto feliz e um cidadão produtivo.

Isso é só um pequeno recorte da educação do Brasil e do Canadá, mas que diz muito sobre a cultura de ambos os países.        

   

Deixe um comentário